JIO Entrevista - Tarcísio Zanon

A Estácio de Sá, primeira escola de samba do Brasil está se preparando para o carnaval 2019 da Serie A.

Todo o trabalho visual de fantasias e alegorias é do carnavalesco Tarcísio Zanon. Vindo da cidade de Canta Galo, este aprendiz de Jack Vasconcelos conta ao JIO Folia como o berço do Samba se prepara para disputar o retorno ao grupo especial do Rio de Janeiro.

Dificuldades, o início da carreira e as expectativas para o futuro também fazem parte dessa entrevista exclusiva.

Tarcísio Zanon é o primeiro na roda de entrevistas do JIO Folia. O carnavalesco da Estácio conta com exclusividade o que está preparando para 2019 no berço do samba (créditos divulgação)


JIO - Como fazer um carnaval bom e competitivo com pouca verba?

TARCÍSIO: Tudo passa principalmente pelo trabalho em equipe e pelo trabalho de reciclagem dos materiais. Vivemos tempos difíceis e saber trabalhar e reaproveitar é fundamental nestes tempos difíceis. Todos os carnavalescos estão criando essa consciência sustentável e isso é bom para os recursos naturais e para o carnaval.

JIO - Que peso representa (positivos e negativos) a escola carregar o titulo de "primeira escola de samba do país"?

TARCÍSIO: Entendo que não possamos dividir em pontos positivos e negativos. Ser a primeira escola de samba do país é levar um legado adiante. Nossa responsabilidade é não deixar de ostentar a bandeira do samba e fazer carnavais sempre memoráveis. 

JIO - Que diferença você percebe ao fazer um carnaval para o grupo de acesso e um carnaval para o grupo especial?

TARCÍSIO: A grande diferença é o investimento gerado. Sabemos que existe um abismo entre os carnavais do grupo especial e da Série A. Isso em investimento. Ademais prezo principalmente pela estrutura de trabalho aos meus profissionais, e não os deixo de maneira alguma atuar sem saber se todos os requisitos de segurança estão sendo cumpridos. No mais o trabalho é o mesmo, árduo mas prazeroso.

JIO - Quais serão os pontos fortes do carnaval da escola para o desfile de 2019?

TARCÍSIO: Sem dúvida alguma é a comunidade estaciana! Quando entro na Sapucaí e olho todo aquele trabalho realizado não deixo de enaltecer nossa comunidade guerreira que sempre está junto da escola faça chuva ou faça sol. O meu componente sempre faz a diferença.

JIO - Você concorda com a "norma" de a campeã do grupo de acesso A abrir o carnaval do grupo especial no ano seguinte?

TARCÍSIO: Esta é uma pergunta polêmica! (risos) Mesmo sabendo que muitas interpretações podem ser feitas, mas eu não concordo. Tudo porque sabemos sobre o “peso” da caneta dos jurados e o “preconceito” que paira sobre as escolas. O julgamento mais justo seria o sorteio e desfile de todas as escolas por igual. Imagine um julgamento justo e igualitário para todas as escolas? Fica a reflexão para que no futuro não hajam distinções. 

JIO - A Estácio já fez alguns enredos religiosos como o "Círio de Nazaré" e "São Jorge". Esse ano aposta em um novo tema religioso. Seria um novo perfil a ser seguido pela escola?

TARCÍSIO: O componente da nossa escola é muito religioso. Participa de todas as celebrações que acontecem, por isso sempre que chegamos com uma proposta dessas elas são muito bem aceitas. Isso é visto nos desfiles que já apresentamos na Sapucaí. A comunidade está sempre de braços abertos para temas religiosos.

O carnavalesco da Estácio aprova os enredos de cunho religioso "O componente da nossa escola é muito religioso. Participa de todas as celebrações que acontecem, por isso sempre que chegamos com uma proposta dessas elas são muito bem aceitas." (créditos divulgação)

JIO - Como surgiu a ideia do enredo de 2019?

TARCÍSIO: A ideia do enredo surgiu através da rainha da escola Jéssica Maia. Ela morou muitos anos no Panamá e foi nos trazendo ideias que poderiam acrescentar ao nosso enredo. Ao abordar o Cristo negro me apaixonei prontamente pois sua história é muito parecida com a de Nossa Senhora Aparecida, mãe negra que emergiu das águas. Um mix de culturas religiosas de Brasil e Panamá. Deus pode ser da maneira que você quiser e é isso que vamos mostrar na avenida, sempre respeitando as opções das pessoas e sua religiosidade.

JIO - Um enredo sobre o São Carlos, santo que deu origem ao nome do morro, base da escola, já foi veiculado?

TARCÍSIO: Ainda não pensamos nesta possibilidade, porém é uma boa ideia. Podemos pensar para o futuro. (risos)

JIO - O que é preciso para voltar aos bons tempos da escola, retornando e se mantendo no grupo especial e retornar à disputa de títulos?

TARCÍSIO: O ideal é o funcionamento da escola de samba como uma empresa, em que paixão e profissionalismo precisam estar em sintonia. Certamente é um caminho natural. Precisamos primeiro passar esta etapa que é o desfile da série A e depois planejar os próximos passos. Tenho certeza de que um bom planejamento é a base de um bom trabalho. 

JIO - Como foi seu histórico no samba até chegar à carnavalesco da Estácio se Sá?

TARCÍSIO: Sou formado em design gráfico, mas sempre gostei de desenhar e expor meus quadros desde pequeno. Já havia realizado alguns trabalhos de carnaval em minha cidade natal Canta Galo. Na minha pós graduação tive a honra de conhecer Jack Vasconcelos que a época era carnavalesco da escola.
Quando Jack se transferiu para a Tuiuti, o presidente me convidou para ingressar na escola e fazer parte da comissão de carnaval com outros profissionais como o Chico Espinoza no ano do enredo sobre São Jorge. Depois das saídas do Mauri e do Chico tive a primeira oportunidade de assinar um carnaval sozinho que foi o de 2018 sobre o comércio popular. Já atuei em projetos da Mocidade Independente e já recebi prêmios relacionados a figurino. Estou muito feliz com a escola e porque a comunidade está feliz. É uma responsabilidade muito grande mas estou pronto para voltarmos ao grupo especial do carnaval.

Tarcísio em ação no barracão da escola. "Estou muito feliz com a escola e porque a comunidade está feliz. É uma responsabilidade muito grande mas estou pronto para voltarmos ao grupo especial do carnaval." (Créditos divulgação)


Texto e Entrevista: Álvaro Siqueira e Marcelo Almeyda

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