ANÁLISE DOS SAMBAS 2017 – MANGUEIRA
Escrito por Hyder Oliveira.
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A Mangueira
traz para o carnaval de 2017 um samba muito bom, forte e que aborda os diversos
tipos de crenças, na tentativa de um sonhado bicampeonato. A grande virtude da
letra é não complicar, conseguindo ser um samba funcional e de fácil
entendimento. Com a força de uma comunidade que diversas vezes sustentou o
canto da agremiação em meio às “paradonas”, o samba tem tudo para funcionar no
desfile e conquistar nota máxima. Ciganerey faz um belo trabalho e garante um
show de qualidade à frente do carro de som verde-e-rosa.
O MEU TAMBOR TEM AXÉ MANGUEIRA
SOU FILHO DE FÉ DO POVO DE ARUANDA
NASCIDO E CRIADO PRA VENCER DEMANDA
BATIZADO NO ALTAR DO SAMBA
SOU FILHO DE FÉ DO POVO DE ARUANDA
NASCIDO E CRIADO PRA VENCER DEMANDA
BATIZADO NO ALTAR DO SAMBA
O refrão principal fala de crenças presentes na umbanda.
Fala da batida do tambor, presente nas grandes festas do terreiro, além de
valorizar o “povo de Aruanda”, um paraíso do plano espiritual para
pretos-velhos e demais entidades. A expressão “vencer demanda” significa
libertação de fluidos negativos, de maus sentimentos. No geral, retrato da fé
contida nos terreiros.
MANGUEIRA… EU JÁ BENZI MINHA BANDEIRA
BATI TRÊS VEZES NA MADEIRA
PARA A VITÓRIA ALCANÇAR
NO PEITO PATUÁ, ARRUDA E GUINÉ
PARA PROVAR QUE O MEU POVO NUNCA PERDE A FÉ
A VELA ACESA PRO CAMINHO ILUMINAR
UM DESEJO NO ALTAR, OU NO GONGÁ
VOU FESTEJAR COM A DIVINA PROTEÇÃO
NUM CÉU DE ESTRELAS ENFEITADO DE BALÃO
É VERDE E ROSA O TOM DA MINHA DEVOÇÃO
JÁ VIROU RELIGIÃO
BATI TRÊS VEZES NA MADEIRA
PARA A VITÓRIA ALCANÇAR
NO PEITO PATUÁ, ARRUDA E GUINÉ
PARA PROVAR QUE O MEU POVO NUNCA PERDE A FÉ
A VELA ACESA PRO CAMINHO ILUMINAR
UM DESEJO NO ALTAR, OU NO GONGÁ
VOU FESTEJAR COM A DIVINA PROTEÇÃO
NUM CÉU DE ESTRELAS ENFEITADO DE BALÃO
É VERDE E ROSA O TOM DA MINHA DEVOÇÃO
JÁ VIROU RELIGIÃO
Essa estrofe ressalta o setor das superstições, atribuindo a
fé aos símbolos da sorte. A famosa “batida na madeira” para evitar má sorte,
amuletos e símbolos característicos das crenças populares, como patuás, trevos
e pés-de-coelho. Também fala de cultos aos santos em diversas religiões,
acendendo a vela para iluminar os caminhos. Estrofe autoexplicativa, sem
grandes margens para dúvidas.
O MANTO A PROTEGER, MÃEZINHA A ME GUIAR
VALEI-ME MEU PADIM ONDE QUER QUE EU VÁ
LEVO OFERENDAS A RAINHA DO MAR
INAÊ, MARABÔ, JANAÍNA
VALEI-ME MEU PADIM ONDE QUER QUE EU VÁ
LEVO OFERENDAS A RAINHA DO MAR
INAÊ, MARABÔ, JANAÍNA
Sincretismo religioso muito presente no
refrão do meio. Começa falando sobre a fé católica, com a devoção a Nossa
Senhora e as romarias ao “padim” Padre Cícero, além de mencionar as
festividades em honra a Iemanjá, com todos os nomes que são atribuídos a ela.
ABRIRAM-SE AS PORTAS DO CÉU CHOVEU NO ROÇADO
NUM LAÇO DE FITA A MENINA PEDIU COMUNHÃO
BALA, COCADA E GUARANÁ PRO ERÊ
MEU PADROEIRO IRÁ SEMPRE INTERCEDER
CLAREIA… TENHO UM GUERREIRO A ME DEFENDER
FIRMO O PONTO PRO MEU ORIXÁ (NO TERREIRO)
PELAS MATAS EU VOU ME CERCAR (MANDINGUEIRO)
MEL, MARAFO E ABÔ…
SÓ COM A AJUDA DO SANTO EU VOU (CONFIRMAR MEU VALOR)
O MORRO EM ORAÇÃO, CLAMANDO EM UMA SÓ VOZ
SOU A PRIMEIRA ESTAÇÃO, ROGAI POR NÓS!
NUM LAÇO DE FITA A MENINA PEDIU COMUNHÃO
BALA, COCADA E GUARANÁ PRO ERÊ
MEU PADROEIRO IRÁ SEMPRE INTERCEDER
CLAREIA… TENHO UM GUERREIRO A ME DEFENDER
FIRMO O PONTO PRO MEU ORIXÁ (NO TERREIRO)
PELAS MATAS EU VOU ME CERCAR (MANDINGUEIRO)
MEL, MARAFO E ABÔ…
SÓ COM A AJUDA DO SANTO EU VOU (CONFIRMAR MEU VALOR)
O MORRO EM ORAÇÃO, CLAMANDO EM UMA SÓ VOZ
SOU A PRIMEIRA ESTAÇÃO, ROGAI POR NÓS!
Mais uma estrofe abordando principalmente as crenças
presentes na umbanda, justamente o maior ponto negativo do samba. Quando se
pretende abordar a fé sob diversos prismas, a visão unilateral torna a letra
bem mais pobre. Novamente temos aqui a presença destacada do sincretismo
religioso, com a presença da proteção dos santos, que nos terreiros são
chamados de orixás. Mais do mesmo! Melodia destacada, letra girando em
círculos.
A Mangueira vem com muita força novamente, com uma linha
melódica animada e uma letra bonita, bem escrita. A sinopse não ajuda muito e
torna o samba com poucas opções, o que o torna repetitivo e previsível. Sendo a
última a desfilar, talvez esse detalhe possa passar despercebido pelos jurados,
evidentemente mais cansados para perceber detalhes tão peculiares e até mesmo
subjetivos. A única garantia que temos é que vem um espetáculo por aí. É Surdo
Um, mané!!!
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Gostaria de acrescentar que o refrão principal ao mencionar a palavra "demanda" faz referência, por metáfora, ao primeiro samba da Mangueira - Chega de Demanda - com a qual ela foi campeã em 1932, endossando que os Mangueirenses foram batizados no altar do samba. Ao invocar todos os santos católicos e todos os orixás, nos aspectos onde não há ou há sincretismo, o Mangueirense finalmente ora para o que ele mais quer todo ano: evocar o povo que ore junto com ele para ser o destaque do carnaval, ganhando o vigésimo título!
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