ESPECIAL LUIZITO DA MANGUEIRA: "CHEGOU A MAIOR ESCOLA DE SAMBA DO PLANETA!"

Texto: Patrick Dudeck
Colaboração: Otávio Augusto Peter de Souza e João Salles Neto

Foto: Redação SRZD

“Quem sou eu
Tenho a mais bela maneira de expressar
Sou Mangueira... uma poesia singular
[...]”
Mangueira 2007 – “Minha Pátria é minha Língua, Mangueira meu grande amor. 
Meu Samba vai ao Lácio e colhe a última flor”
Após mais uma madrugada de festa na quadra da Maior Escola de Samba do Planeta, cumprindo seu ofício com dedicação e amor como poucos, nos deixou, com saudades eternas, aquele que teve a honra e o grande desafio de assumir em 2007 o posto do saudoso mestre Jamelão. Luizito (José Luís Couto Pereira da Silva), aos 61 anos, teve um infarto na casa de sua namorada, localizada no Morro da Mangueira, pouco depois de chegar de mais uma etapa da disputa de sambas no Palácio do Samba. O intérprete apresentava histórico de problemas no coração, já que em 2007 também teve um infarto, 15 dias antes do desfile oficial da Mangueira. Mesmo após o incidente poucos dias antes do carnaval, seu amor ao pavilhão verde e rosa falou mais alto e superou qualquer problema de saúde. Luizito cantou e encantou! Nesse ano, o enredo era sobre a Língua Portuguesa e Luizito teve a felicidade de interpretar no ano de sua estreia como a voz oficial da Mangueira um samba que falava sobre a língua de seus antepassados, já que ele era descendente de portugueses.
Foto: Márcia Folleto/O Globo
“[...]
Cantando eu vou
Do Oiapoque ao Chuí ouvir
A minha pátria é minha língua
Idolatrada obra-prima te faço imortal
[...]”
Mangueira 2007 - “Minha Pátria é Minha Língua, Mangueira Meu Grande Amor. Meu Samba Vai ao Lácio e Colhe a Última Flor”



Luizito substituiu Jamelão em meados de agosto de 2006, já na gravação do CD dos sambas de 2007 do Grupo Especial do RJ, devido ao afastamento deste por problemas de saúde, que culminaram em sua morte em 14 de junho de 2008, vítima de falência múltipla dos órgãos, o que causou grande comoção no meio do samba e deixou uma lacuna enorme não só na escola, como também para todos os sambistas.
Foto: O Dia IG/Reprodução
“Ao som de clarins 
Descendo a ladeira 
Sou Mangueira
[...]”
Mangueira 2008 – “100 Anos do Frevo, é de Perder o Sapato. 
Recife Mandou me Chamar…”

Sua chegada em Mangueira ocorreu em 1997, para defender um samba na disputa realizada pela escola para escolha de seu hino para o carnaval do ano seguinte. E chegou para ficar! Com “pé quente”, Luizito estreou em 1998 no carro de som como apoio de Jamelão, conquistando o campeonato com o enredo “Chico Buarque da Mangueira”.
“Mangueira despontando na avenida 
Ecoa como canta um sabiá 
Lira de um anjo em verso e prosa 
De um querubim que em verde e rosa 
Faz toda a galera balançar
[...]”
Mangueira 1998 – “Chico Buarque da Mangueira”

Sua origem, no entanto, foi na Caprichosos de Pilares, onde foi apoio de Carlinhos de Pilares, J. Leão, Aroldo Melodia e Márcio Souto por mais de 10 anos. Em 1993 foi um dos compositores do samba da agremiação e intérprete entre 1994 e 1997 (em 1997 apenas gravou o CD de sambas, não desfilou).
Com Carlinhos de Pilares, em 1996
Foto: Sambario Carnaval
“[...]
Saudade...
O amor viaja na lembrança
Eu pinto a cara de esperança
A liberdade faz meu ideal
[...]”
Caprichosos de Pilares 1995 – “Da terra brotei, negro sou e ouro virei”



Luizito defendeu o pavilhão Verde e Rosa entre 1998 e 2005, como apoio no carro de som ao seu grande amigo e ilustre mestre Jamelão, conquistando os campeonatos de 1998 - já citado e, de 2002, com o enredo “Brazil com 'Z' é para Cabra da Peste, Brasil com 'S' é a Nação do Nordeste”. Sendo que no ano de 2001, além de apoio na Estação Primeira, defendeu o samba da escola Villa Rica, cujo enredo foi em homenagem à Chiquinho da Mangueira, que 12 anos mais tarde, tornaria-se presidente da Verde e Rosa.
“[...]
Sinhô, Ismael, Pixinguinha
Cartola, Noel, Candeia…
Ecoa no céu, Mangueira
Traz todo samba pra Estação Primeira 

É orgulho é religião,
Em meigas faces tradição
Jeito moleque mostra em breque,
No amor então, se faz canção
Partido alto em fundo de quintal
Silas, poeta do meu carnaval
Mangueira, hoje o povo todo aclama
Nossa majestade, o samba
O “mundo é um eterno moinho”
Meu berço “Folhas Secas” vão caindo
As novas vão crescer em seu caminho
A manga brota em flor sem ter espinho
[...]”
Mangueira 1999 – “O Século do Samba”

“[...]
Vou descendo a ladeira
Com o trio da Mangueira
“doce Cartola”, sua alma está aqui
[...]”
Mangueira 2002 – “Brazil com 'Z' é para Cabra da Peste, Brasil com 'S' é a Nação do Nordeste”

“Quem plantar a paz, vai colher amor
Um grito forte de liberdade
Na estação primeira ecoou!

Um clarão no céu
Iluminou... Mangueira
Surge um caminho de luz
Pra mergulhar na história
[...]

É o vento que sopra, poeira!
Segue o homem em busca da fé
Do alto uma voz anuncia
A certeza de um novo dia
[...]”
Mangueira 2003 – “Os Dez Mandamentos: O Samba da Paz Canta a Saga da Liberdade”

Devido a morte de sua esposa, Luizito não participou do carro de som da Mangueira em 2006, ano em que Jamelão defendeu pela última vez um samba da Verde e Rosa na Sapucaí.
“[...]
A carranca na mangueira vai passar
Minha bandeira tem que respeitar
Ninguém desbanca minha embarcação
Porque o samba é minha oração
[...]”
Mangueira 2006 – “Das Águas do Velho Chico, Nasce um Rio de Esperança”

Em 2007, Luizito assumiu como intérprete oficial da Mangueira, permanecendo até o carnaval de 2015. Nesse período, a escola passou por grave crise financeira e ainda passa, envolvida também em diversas polêmicas. Mas não há crise que supere a paixão pelo samba. Paixão esta que ficava evidente sempre que Luizito começava a cantar. Cantava não apenas com a voz, mas também com o coração, provocando sempre à toda nação mangueirense muita emoção ao ver seu amado pavilhão verde e rosa desfilar.







Foto: Nina Lima/Extra





“Sou a cara do povo... Mangueira eterna paixão
A voz do samba é verde e rosa
e nem “cabe explicação”

Deus me fez assim, filho desse chão
Sou povo, sou raça... miscigenação
Mangueira viaja nos Brasis dessa nação
[...]
É sangue, é suor, religião
Mistura de raças num só coração
Um elo de amor à minha bandeira
Canta a estação primeira
[...]
Cada lágrima que já rolou
Fertilizou a esperança
Da nossa gente, valeu a pena
[...]
Abraço o meu irmão
Pra reviver a nossa história
Deixar guardado na memória o seu valor”
Mangueira 2009 – “A Mangueira Traz Os Brasis do Brasil Mostrando a Formação do Povo Brasileiro”

Em 2010, Luizito dividiu o carro de som da escola com Zé Paulo Sierra e Rixxah (ou Richahs), trio que ficou conhecido como “os 3 tenores da Mangueira”.
Foto: Ego/Globo.com
“[...]
Vai minha inspiração
Num doce balanço a caminho do mar
Vem me trazer a canção
Pro mundo se encantar

Tantas emoções na verde-e-rosa 
Brilham as estrelas imortais 
Bate outra vez uma saudade 
Lembro dos antigos festivais
[...]
O sol nascerá, as cortinas irão se fechar
 Folhas secas virão e o show vai continuar!”
Mangueira 2010 – “Mangueira é Música do Brasil”

Em 2011, Rixxah deixou a Verde e Rosa e foi substituído por Ciganerey, mantendo o apelido dado ao trio de intérpretes da escola. Nesse mesmo carnaval, ocorreu o episódio que poderia ter afastado Luizito do solo mangueirense, devido a uma confusão na quadra da escola, gerada pelo atrito com um torcedor do Fluminense, time campeão do Campeonato Brasileiro de 2010, num evento realizado em comemoração ao título deste clube. Após desentendimentos com o presidente Ivo Meirelles, os dois se reuniram e resolveram a situação.
Foto: SRZD-Carnavalesco
“Mangueira é nação, é comunidade
Minha festa, teu samba, ninguém vai calar 
Sou teu filho fiel, Estação Primeira
Por tua bandeira vou sempre lutar
[...]
Sonhei que folhas secas cobriam meu chão
Pra delírio dessa multidão
Impossível não emocionar
Chorei... Ao voltar para minha raiz
Ao teu lado eu sou mais feliz
Pra sempre vou te amar”
Mangueira 2011 – “O Filho Fiel, Sempre Mangueira”

Em 2012, com uma homenagem ao Cacique de Ramos, a escola desfilou com seu trio de tenores e um tripé no meio da bateria, chamado de mesa do pagode, contando com presenças ilustres de Alcione, Xande de Pilares, Dudu Nobre, Noca da Portela entre outros, acionados em determinados momentos do desfile. As tradicionais paradonas da bateria surpreenderam ainda mais o público presente porque levaram um tempo superior a 2 minutos, tornando a inovação uma marca da bateria da Mangueira durante a gestão de Ivo Meirelles.
Foto: Jornal GGN
“[...]
Debaixo da tamarineira
Oxóssi guerreiro me fez recordar
Um lugar... O meu berço, num novo lar
Seguindo com os pés no chão raiz, que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais
[...]”
Mangueira 2012 – “Vou festejar! Sou Cacique, sou Mangueira”

Ano em que se esperava um enredo em homenagem ao saudoso mestre Jamelão, a direção da escola decidiu por um enredo patrocinado em 2013, sobre a cidade de Cuiabá. Vale destacar que o então presidente Ivo Meirelles, em acordo com a escola de samba Jacarezinho, da qual a Mangueira é madrinha, ofereceu o enredo em homenagem a Jamelão para a escola. Porém, o intérprete sempre deixou claro que não gostaria de ser tema de enredo após sua morte.
O desfile ficou marcado por outra inovação da bateria, na verdade duas baterias, que se revezavam ao longo do desfile e pelo problema da última alegoria com a torre de televisão, localizada no final da avenida, o que provocou atraso e perda de pontos para a escola. Os intérpretes também vieram divididos em 2 carros de som, a exemplo da bateria: Luizito e Zé Paulo no primeiro e Ciganerey, com a participação especial de Agnaldo Amaral no segundo.
Foto: Blog do Bebeto Lima
“[...]
Embarque na Estação Primeira 
O mestre a nos guiar 
Bambas imortais, o eldorado dos antigos carnavais 
Num relicário de beleza sem igual 
Fonte de riqueza natural
[...]”
Mangueira 2013 – “Cuiabá: Um paraíso no Centro da América”



Com a troca da direção, em 2014 houve grandes mudanças nos quadros da escola, com a chegada de Rosa Magalhães e da porta-bandeira Squel. Luizito foi mantido como intérprete, mas contou naquele ano com apoio de Eraldo Caê. Geraram-se grandes expectativas para o desfile da Verde e Rosa, devido às mudanças na administração e pelos profissionais contratados. Porém, a escola cometeu erro similar ao do ano anterior, sua quinta alegoria bateu na torre de televisão e quebrou a escultura central.
Foto: Veja.com/Reprodução

“[...]
Vem ouvir a voz do povo a cantar
Ao longe todo mundo me conhece
O meu samba é uma prece
[...]”
Mangueira 2014 – “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”


2015, seu último desfile pela Maior Escola de Samba do Planeta, assim como ele chamava a Velha Manga, foi premiado com o estandarte de Ouro de melhor intérprete. Sob intensa chuva na concentração e no início do desfile, a Verde e Rosa desfilou pela última vez com a voz de Luizito ecoando pela Marquês de Sapucaí. Foi um desfile repleto de falhas e dificuldades, mas foi também um desfile com DNA de Mangueira, homenageando as mulheres brasileiras e as damas do Jequitibá do Samba.
Foto: Fabio Rossi/ Agência O Globo

“Eu vou cantar a vida inteira
Pra sempre Mangueira,
Tem que respeitar!
[...]”
Mangueira 2015 – “Agora chegou a vez vou cantar: 
Mulher de Mangueira, Mulher brasileira em primeiro Lugar”




“CHEGOU A GARRA, CHEGOU A EMOÇÃO. CHEGOU A MAIOR ESCOLA DE SAMBA DO PLANETA! CHEGOU A ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA!”
Luizito da Mangueira (1954-2015)

























Texto: Patrick Dudeck
Colaboração: Otávio Augusto Peter de Souza e João Salles Neto

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