"Bangu vai cantar!" confira a análise do samba enredo da Unidos de Bangu 2018

UNIDOS DE BANGU 2018

Por: Hyder Oliveira

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                Bangu abre a Série A 2018 com um samba que abraça com competência o objetivo do enredo, que é abordar a temática da força do negro e sua cultura para a construção de várias civilizações. Não se trata de um tema que fale sobre opressão, escravidão, impunidade e resignação. Vai muito além disso. Aqui temos o negro sendo retratado como o autor da história, o protagonista do processo cíclico da humanidade. Com reis, heróis, resistentes, eles trouxeram para os dias de hoje traços vivos de uma cultura que império nenhum conseguiu destruir.

EABADEIAIA
IAIA AIÊ EABADEIAIA EIAIÁ
EABADEIAIA
IAIA AIÊ EABADEIAIA BANGU VAI CANTAR!

Aqui vemos claramente um refrão de expressão da linguagem africana, um recurso muito utilizado nos sambas com enredos desse cunho. Sempre costuma gerar boas notas e uma grande aceitação do público e dos jurados, mas denota uma falta de criatividade para elaborar composições com esse estilo.

A LINDA LUA DE ÁFRICA
VAI REFLETIR, NA TUA PELE (NEGRA)
SOMOS HERDEIROS DO ALAFIN DE OYÓ
O ELO MAIOR COM A NATUTEZA
OLHAR DE SERPENTE, NOBREZA DE RAÇA
QUE QUEBRA A CORRENTE
E NÃO SE ENTREGA NÃO
TEM A VALENTIA DE UM LEÃO
BRILHOU…
NOS OLHOS O FOGO ANCESTRAL
ALUMIANDO O RITUAL
O CÉU E O MAR, ORUM E AIYÊ
SE UNEM PRA TE PROTEGER

Aqui vemos o orgulho típico do enredo. A cultura negra deixou para seus filhos muito mais do que escravidão, fuga e medo. Temos aqui claras referências a lutas pela liberdade e pela própria afirmação do negro como senhor de sua vida, dando origem a diversas civilizações, dentre as quais muitas delas bem-sucedidas, com reinados duradouros. Como a sinopse transmite, os negros são descendentes de Alafin Oyó, abordando suas crenças, valores e resistência diante do passar do tempo.

ÔÔÔÔ CALUNGA É DOR
É UM CLAMOR POR PIEDADE
Ê MARÉ! QUE DANÇA
Ê MARÉ! BALANÇA O TUMBEIRO
VELHO PRISIONEIRO DA DESIGUALDADE
OCEANO INTEIRO É PRANTO DE SAUDADE

O refrão do meio já mostra um pouco da mudança na concepção do negro com o período das grandes navegações. A escravidão se tornava latente e o trabalho forçado na mineração e em engenhos fez com que a mão-de-obra negra atravessasse os continentes, chegando ao Brasil, em seu período colonial. Mesmo com toda a luta, suor, cansaço e dor, eles nunca abandonaram suas raízes, danças e costumes.

O BRADO DE AGOTIME ECOAVA
RAINHA, MÃE NAÊ DO AGONGONÔ
GALANGA VIROU CHICO-REI
PALMARES É O MEU YLÊ
TEM FESTA NO QUARITERÊ
SEGUINDO EM DEVOÇÃO EU VOU
AO ÉBANO ALTAR DA “GINGA”
TOQUE DE CABAÇA ENFEITIÇADO
EU QUERO VER O NEGRO SER COROADO
NO PORÃO DA FÉ ÔÔÔ
LEVA AFEFÉ, MEU AFÃ (PRO MAR)
E ETERNIZA ESSE CANTO YORUBÁ

O samba encerra com a chamada para o refrão principal, na toada do orgulho negro, na exaltação ao canto yorubá, na exaltação de escravos que se rebelaram e não se permitiram oprimir, no resgate da fé, das crenças e das festas africanas, que até hoje são fonte de firmeza e consolidação de sua raiz.

É um samba que tem características imponentes, que deve agradar os críticos de samba. Porém, por abrir os desfiles, sempre corre um forte risco de ser julgada de forma pesada, ainda mais por ser um pavilhão emergente na Série A. Boa sorte, Bangu!

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