"A Ópera dos Malandros"
Sem dúvida, estamos falando de um dos melhores enredos do ano, o
melhor do Salgueiro de muitos tempos. A sinopse por si só traz dois
elementos por de mais importantes para o carnaval carioca: o próprio
carioca, e a brasilidade, um tempêro que não deveria faltar a
nenhum enredo. Renato e Márcia Lage mostram mais uma vez por que
formam a melhor dupla de carnaval de todos os tempos. Simples,
diretos, lineares, com um enredo de enxer os olhos, sem nenhuma
característica, pelo menos aparente, de ser um enredo encomendado,
feito para vender. Numa entrevista, Renato Lage disse que a ideia
partiu da presidente Regina Celi, e isso me faz acreditar que estamos
falando da melhor presidente de escola de samba da atualidade, de
todos os carnavais de todas as cidades.
Malandro…
É
o tipo que entra faceiro na roda, abre o jogo e fecha com os seus.
É
o Rei da Ginga, Rei da Noite, o Barão da Ralé!
Sagaz,
invoca os personagens de um Rio lírico, nesta ópera tão pomposa
que
só um malandro poderia sonhar.
(Ou
tão ordinária que qualquer mendigo poderia pagar).
Malandro…
Vai
flanando triunfal por entre deuses e meretrizes, rainhas e monarcas…
Delirantes
fidalgos desta magnífica ópera das ruas.
É
aquele que faz das calçadas o palco das ilusões.
Atento,
não dorme no ponto nem cochila na linha.
E
só baixa a guarda quando o sol dá o ar de sua graça.
Pode-se
perceber queo malandro representado no Salgueiro é uma pessoa da
noite, das festas nas madrugadas, uma pessoa das ruas. O Rei da
Noite.
Malandro…
É
o mestre-sala das alcovas.
O
bailarino dos salões, o cavaleiro errante dos morros cariocas.
Atua
nas madrugadas, caminhando na ponta dos pés, como quem pisa nos
corações.
À
luz do abajour,
ama
a todas que quiser.
Das
muchachas
de
Copacabana às mimosas
da
Praça Tiradentes.
Malandro…
Dono
de um jeito manso que é só seu de aparar os dilemas da vida no fio
da navalha.
É
o sujeito cordial que desfila macio entre dados, cartas e roletas.
É
o rei de todos os naipes num carteado de damas, valetes e coringas.
Aquele
que, mesmo quando o jogo vira contra, nunca joga a toalha.
Porque
é o filho gerado no ventre da sorte, a imperatriz do mundo!
Malandro…
É
o pensador dos botequins, filósofo das mesas de bar!
O
dono de um mundo que aprendeu a domar.
Poeta,
comanda o cortejo na cadência bonita do samba vadio
que
o luar lhe emprestou.
Malandro…
Um
homem de fé, que fecha o corpo e abre os caminhos ao próprio
destino.
Que
não foge à luta e que pede a paz!
Entidade
saudada em mojibás, laroiês e saravás.
É
aquele que entra na gira pra fazer o mundo girar.
Que
guia a roda na palma da mão para sua gente ir adiante.
É
o dono da rua que vive na alma de cada carioca da gema,
povo
que “TRABALHA PACA”!!
Que
vai pro batente de todo dia chacoalhando guias e cordões no trem da
Central.
Malandro…
Astro
maior desta ópera
Que
segue rumo ao ato derradeiro.
E
quando a luz se apagar…
A
orquestra silenciar…
A
poeira assentar no chão…
A
plateia, de pé, em delírio…
Bate
palma e pede bis!
Pois,
a cada carnaval, ele renasce no coração de todo bamba.
Afinal,
malandro que é malandro nunca sai de cena…
Vira
samba!
Carnavalescos:
Renato Lage e Márcia Lage
Enredo:
Diretoria Cultural G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
Enredo
livremente inspirado na
obra
“A Ópera do Malandro” de
Chico
Buarque de Hollanda.
Não
tem muito o que se dizer sobre esse enredo, apenas que ele é
fantástico da maneira que foi construído. Retrata de várias formas
o homem carioca, os diversos tipos de malandro que podemos conhecer,
desde o Rei da Ralé ao Filósofo. O romântico, o jogador de cartas.
Será mostrado o berço da malandragem carioca no primeiro setor, até
a apoteose de fé e paz no último setor, que representará a festa
final e o encerramento do desfile.
Será
um grande desfile, sem dúvida nenhuma. Depois de muitos anos batendo
na trave, nesse ano o Salgueiro tem tudo para ser uma das grandes
vencedoras do carnaval. Se não tiver problemas com carros
alegóricos, tempo de desfile, etc, deve ser a campeã, tem um dos
melhores enredos, um dos melhores sambas, e tem ainda por cima uma
ótima equipe.
Tem
tudo para ser um sucesso.
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