Análise de Enredos RJ 2016 - Vila Isabel

Enredo: "Memórias do Pai Arraia - Um sonho pernambucano, um legado brasileiro"




Antes de começar qualquer análise, é importante destacar uma frase do autor do enredo, Martinho da Vila: “Este enredo não tem ideologia política e partidária”.


Lembro, quando menino,
de ver o flagelo de perto, na minha terra natal.
A miséria batia à minha porta:
um povo sofrido me estendia as mãos, como pedinte.
Eram filhos da seca vindos dos áridos sertões,
que deixaram pelo caminho suas esperanças.

Como rapidamente podemos perceber, o enredo é escrito em primeira pessoa. Eu particularmente gosto de enredos assim, em que o homenageado conta a sua história, isso permite ao carnavalesco várias visões, assim como permite várias visões a quem acompanhará os desfiles. Miguel Arraes conta aqui como viu a pobreza de perto, a miséria, o flagelo, ou seja, o povo sofrido. Viu seus iguais sofrerem sem poder fazer alguma coisa.

Anos se passaram e, já nos braços do povo,
fui conduzido a assumir a responsabilidade
de dar a ele voz e dignidade.
Na periferia de Recife, paisagens desoladas.
A pobreza mora na lama, nos mangues,
se equilibrando em palafitas.

Aqui já pulamos para a parte em que Miguel Arraes conta que foi levado nos braços do povo a assumir o governo de Pernambuco, de ajudar esse mesmo povo a enfrentar as dificuldades que ele enfrentou quando menino. Se percebe aqui a mesma coisa que eu comentei na outra análise: brasilidade. Enfrentar as dificuldades com dignidade e bravura é a cara do povo brasileiro, e se encaixa perfeitamente nesse enredo.

No meu tempo, agi como um juiz,
numa questão em meio aos canaviais.
Para inverter as injustiças,
promovi o "Acordo do campo",
numa época em que era preciso "Reformar".
Por tais ações, tive daquela gente
comovente gratidão.
Buscavam em mim, mais que um amigo,
mais que um irmão,
e deram-me a alcunha de "Pai Arraia",
como gesto de candura e devoção.

As ações que mudaram a vida do povo pernambucano podem ser vistas aqui na prática, e devem ser vistas quando essa parte do enredo se mostrar no desfile. Essas “reformas” fizeram com que Miguel Arraes ganhasse a alcunha de “Pai Arraia”, um apelido carinhoso, o qual demonstra o afeto dos pernambucanos para com ele. Ele promoveu o combate as desigualdades sociais, a extrema pobreza, e por isso é reconhecido até hoje.

Lembro dos ensinamentos de Paulo Freire
e da fé de D. Helder Câmara.
Com o apoio dos queridos amigos,
educadores, artistas, e intelectuais,
surgiu um grande "Movimento", o MCP,
para despertar as massas,
que pela educação iriam se libertar.

Essa parte do enredo cita Paulo Freire e D. Helder Câmara, amigos de Miguel Arraes, e que o ajudaram a fundar o Movimento de Cultura Popular, com o objetivo de despertar o povo e mostrar a importância da educação para o desenvolvimento e “libertação”. É como se o povo se encontrasse preso sob uma redoma, a educação entraria, nesse contexto, como a chave que iria libertar esse povo, o que na prática se torna verdade. Educação é a arma do povo.

Valorizando a cultura e mantendo as tradições,
todas as artes se apresentaram nas praças,
congraçando as classes.
Hoje seus cantos e danças "fervem"
e tomarão a Passarela do Samba,
com batuques soltos e sonoros,
com maracatus de baques soltos e virados,
nesta festa popular.
Mesmo não estando entre vós,
deixo minhas lembranças e o meu legado,
no ano do meu centenário,
num carnaval de sonho, com a Vila a comemorar.

Para encerrar o enredo, Miguel Arraes deixa uma mensagem a Vila Isabel e sua comunidade. Ele quer se juntar a maior festa cultural do planeta, tornar o carnaval uma ferramenta para vencer as adversidades que todo brasileiro enfrenta. 

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