Enredo:
"Memórias
do Pai Arraia - Um sonho pernambucano, um legado brasileiro"
Antes de começar qualquer análise, é importante destacar uma frase do autor do enredo, Martinho da Vila: “Este enredo não tem ideologia política e partidária”.
Lembro,
quando menino,
de
ver o flagelo de perto, na minha terra natal.
A
miséria batia à minha porta:
um
povo sofrido me estendia as mãos, como pedinte.
Eram
filhos da seca vindos dos áridos sertões,
que
deixaram pelo caminho suas esperanças.
Como
rapidamente podemos perceber, o enredo é escrito em primeira pessoa.
Eu particularmente gosto de enredos assim, em que o homenageado conta
a sua história, isso permite ao carnavalesco várias visões, assim
como permite várias visões a quem acompanhará os desfiles. Miguel
Arraes conta aqui como viu a pobreza de perto, a miséria, o flagelo,
ou seja, o povo sofrido. Viu seus iguais sofrerem sem poder fazer
alguma coisa.
Anos
se passaram e, já nos braços do povo,
fui
conduzido a assumir a responsabilidade
de
dar a ele voz e dignidade.
Na
periferia de Recife, paisagens desoladas.
A
pobreza mora na lama, nos mangues,
se
equilibrando em palafitas.
Aqui
já pulamos para a parte em que Miguel Arraes conta que foi levado
nos braços do povo a assumir o governo de Pernambuco, de ajudar esse
mesmo povo a enfrentar as dificuldades que ele enfrentou quando
menino. Se percebe aqui a mesma coisa que eu comentei na outra
análise: brasilidade. Enfrentar as dificuldades com dignidade e
bravura é a cara do povo brasileiro, e se encaixa perfeitamente
nesse enredo.
No
meu tempo, agi como um juiz,
numa
questão em meio aos canaviais.
Para
inverter as injustiças,
promovi
o "Acordo do campo",
numa
época em que era preciso "Reformar".
Por
tais ações, tive daquela gente
comovente
gratidão.
Buscavam
em mim, mais que um amigo,
mais
que um irmão,
e
deram-me a alcunha de "Pai Arraia",
como
gesto de candura e devoção.
As
ações que mudaram a vida do povo pernambucano podem ser vistas aqui
na prática, e devem ser vistas quando essa parte do enredo se
mostrar no desfile. Essas “reformas” fizeram com que Miguel
Arraes ganhasse a alcunha de “Pai Arraia”, um apelido carinhoso,
o qual demonstra o afeto dos pernambucanos para com ele. Ele promoveu
o combate as desigualdades sociais, a extrema pobreza, e por isso é
reconhecido até hoje.
Lembro
dos ensinamentos de Paulo Freire
e
da fé de D. Helder Câmara.
Com
o apoio dos queridos amigos,
educadores,
artistas, e intelectuais,
surgiu
um grande "Movimento", o MCP,
para
despertar as massas,
que
pela educação iriam se libertar.
Essa
parte do enredo cita Paulo Freire e D. Helder Câmara, amigos de
Miguel Arraes, e que o ajudaram a fundar o Movimento de Cultura
Popular, com o objetivo de despertar o povo e mostrar a importância
da educação para o desenvolvimento e “libertação”. É como se
o povo se encontrasse preso sob uma redoma, a educação entraria,
nesse contexto, como a chave que iria libertar esse povo, o que na
prática se torna verdade. Educação é a arma do povo.
Valorizando
a cultura e mantendo as tradições,
todas
as artes se apresentaram nas praças,
congraçando
as classes.
Hoje
seus cantos e danças "fervem"
e
tomarão a Passarela do Samba,
com
batuques soltos e sonoros,
com
maracatus de baques soltos e virados,
nesta
festa popular.
Mesmo
não estando entre vós,
deixo
minhas lembranças e o meu legado,
no
ano do meu centenário,
num
carnaval de sonho, com a Vila a comemorar.
Para
encerrar o enredo, Miguel Arraes deixa uma mensagem a Vila Isabel e
sua comunidade. Ele quer se juntar a maior festa cultural do planeta,
tornar o carnaval uma ferramenta para vencer as adversidades que todo
brasileiro enfrenta.
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