Uma crônica sobre perspectiva: Uma noite épica

O tempo nos trás maturidade para entender as perspectivas. O sinal do sucesso pode estar no copo meio cheio. (créditos da imagem internet)

“Olha lá menino tempo,
Tenho tanto pra contar...”

Começo este texto pela emblemática frase do samba 2019 da Mocidade Independente de Padre Miguel para pedir licença a você, leitor,  para fazermos algo diferente do habitual.
Em diversas situações sempre achamos que olhar para o lado negativo é a solução mais viável. É como aquele lance do copo meio cheio: Na perspectiva direta é sempre mais fácil achar que ele está meio vazio.
Você pode estar se perguntando: “ O que este autor está querendo dizer com tudo isso?”
Diversas vezes, o “sucesso” de um evento não está em sua boa bilheteria, na “casa cheia” ou nas críticas da coluna social da imprensa especializada. Recordam-se quando ali em cima eu disse que o lance do copo “meio cheio” depende da perspectiva de quem observa? É assim que eu peço licença a você para falar de forma mais próxima sobre a terceira festa da Alegoria da Unidos do Peruche que aconteceu no último sábado (03) em sua sede social no bairro do Limão

O dia quente atraiu um bom público, que pode  aproveitar os shows de samba e pagode e as apresentações da bateria da casa Rolo Compressor e das coirmãs Gaviões da Fiel, Rosas de Ouro e do Bloco União.

Por volta das 19 horas, um capricho da natureza que nós tanto maltratamos, anunciou uma tempestade de ventos e trovoadas que constantemente pega nossa cidade “desprevenida” aprontou das suas. As luzes da quadra e da metade do bairro da Casa Verde baixa apagaram, deixando todos os presentes na escuridão. Naquele momento, o bloco União realizava sua apresentação cantando sambas da agremiação carioca União da Ilha do Governador. O habitual nessas situações seria a finalização da apresentação e o êxodo do público para outros eventos. Olha aí a perspectiva do copo meio cheio novamente: Terminar o evento ou mostrar verdadeiramente que o carnaval não tem barreiras, que supera adversidades e que é feito do povo e para o povo? Se você pensou em responder terminar o evento, tenho que lhe dizer que outra situação  aconteceu. Os ritmistas do bloco União começaram a tocar com maior afinco. Sem o acompanhamento do time de canto, eles  homenagearam a Peruche com o enredo de 1985, “Água Cristalina”. Do lado de fora, a ventania de Iansã e os trovões de Xangô avisaram que por ali a festa continuaria até o seu encerramento.
Com o fim da apresentação do bloco, mais uma apreensão, será que a Rosas de Ouro se apresentaria? Ou será que aquele momento seria apenas uma quimera?
A resposta veio da comunidade da Brasilândia, que cantava a plenos pulmões, que o show estava apenas começando. A Bateria com Identidade sob a batuta de mestre Rafa, iniciou seu show. O público não arredou o pé e cantou os sambas mais emblemáticos da escola, inclusive o hino de 2019 em homenagem a Armênia.
Alguns minutos depois da Rosas, a Gaviões da Fiel “invadiu” o terreiro perucheano levando público ao delírio ao cantar seus sambas antológicos e o samba de 2019 com suas bossas e convenções.
 Para finalizar, cito pela última vez a máxima que lancei no início deste texto sobre a perspectiva do copo “meio cheio”. Tudo estava certo para dar errado, público acima do esperado, contratempos e a falta de energia. Porém, a adversidade nos presenteou com uma noite épica e que servirá de base para contar histórias futuras aos nossos descendentes. O carnaval é uma coisa mágica.Tem as bençãos dos deuses, sejam eles quais forem para que situações inusitadas se tornem inesquecíveis. Às escolas de samba Grêmio Gaviões da Fiel Torcida, Sociedade Rosas de Ouro, Unidos do Peruche e ao Bloco União, obrigado por mostrar a importância do sentido de irmandade e por resgatar um carnaval pelo qual estamos saudosos: alma lavada, pé no chão, rouquidão e da gira no terreiro. A tecnologia mais uma vez agiu em prol do povo, mostrando que onde houver gente feliz, haverá SAMBA!
Eventos de sucesso, apesar das questões financeiras, são aqueles que as pessoas voltam felizes, extremamente suadas, descalças e com ótimas histórias para contar.



Texto: Marcelo Almeyda

Comentários

  1. A descrição perfeita do que foi aquele sábado na Unidos do Peruche. O samba resiste.

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