ANÁLISE DOS SAMBAS ENREDO 2017 - IMPERATRIZ

ANÁLISE DOS SAMBAS 2017 – IMPERATRIZ 

Escrito por Hyder Oliveira.


O samba da Imperatriz para o carnaval de 2017 tem a letra mais bonita do ano e uma das mais belas da história da agremiação. A melodia conta com algumas falhas, sobretudo com a queda de intensidade na transição do refrão principal para a primeira estrofe. Mas não tira os grandes méritos de um samba que conta muito bem o enredo, sobre a vida dos indígenas antes, durante e depois da chegada dos irmãos Villas-Bôas ao território do Xingu.

SALVE O VERDE DO XINGU… A ESPERANÇA
A SEMENTE DO AMANHÃ… HERANÇA
O CLAMOR DA NATUREZA
A NOSSA VOZ VAI ECOAR… PRESERVAR!

O refrão faz uma crítica e um verdadeiro apelo à preservação do Parque Nacional. Em um país com tantas áreas verdes, o desmatamento segue sendo um dos grandes problemas ambientais enfrentados. A preservação hoje será a esperança do amanhã. O clamor surge da necessidade de salvar um território com raízes, tradição e natureza viva.

BRILHOU… A COROA NA LUZ DO LUAR!
NOS TRONCOS A ETERNIDADE… A REZA E A MAGIA DO PAJÉ!
NA ALDEIA COM FLAUTAS E MARACÁS
KUARUP É FESTA, LOUVOR EM RITUAIS
NA FLORESTA… HARMONIA, A VIDA A BROTAR
SINFONIA DE CORES E CANTOS NO AR
O PARAÍSO FEZ AQUI O SEU LUGAR
JARDIM SAGRADO O CARAÍBA DESCOBRIU
SANGRA O CORAÇÃO DO MEU BRASIL
O BELO MONSTRO ROUBA AS TERRAS DOS SEUS FILHOS
DEVORA AS MATAS E SECA OS RIOS
TANTA RIQUEZA QUE A COBIÇA DESTRUIU

A rotina da vida indígena era de rezas e rituais, em uma terra que era deles, muito antes de se chamar Brasil. Com sua cultura, a natureza era sagrada em tudo. O rio, as plantas, os animais. A sabedoria do pajé era a catequese mais importante da aldeia. Para eles, a morte também deveria ser celebrada, num ritual chamado “Kuarup”, como um “envio” das almas a Tupã, a maior divindade daquele povoado. Porém, esse “paraíso” dos nativos passou a ser cobiçado pelo homem branco, que se interessou pela variedade de riquezas da área e passou a explorar o espaço com o objetivo de modernizar o vasto espaço arbóreo. Foram construídas usinas, barragens, ferrovias... e as árvores sendo derrubadas. O espaço estava diminuindo, agora eles tinham companhia. Índios e brancos dividiriam a terra a partir dali.

SOU O FILHO ESQUECIDO DO MUNDO
MINHA COR É VERMELHA DE DOR
O MEU CANTO É BRAVO E FORTE
MAS É HINO DE PAZ E AMOR
SOU GUERREIRO IMORTAL DERRADEIRO
DESTE CHÃO O SENHOR VERDADEIRO
SEMENTE EU SOU A PRIMEIRA
DA PURA ALMA BRASILEIRA

Refrão do meio de muito significado. Uma verdadeira exaltação ao genuíno índio: o guerreiro dono da terra, de fibra, coragem e autenticidade. O povo nativo, com suas peculiaridades, traz em si a raiz cultural típica da família como base da sociedade. O pai sendo o chefe, que caça, pesca e dá o exemplo ao filho, com a mãe que trabalha na oca, cuida das crianças e protege dos animais perigosos. Uma família unida e fiel aos seus valores e costumes.

JAMAIS SE CURVAR, LUTAR E APRENDER
ESCUTA MENINO, RAONI ENSINOU
LIBERDADE É O NOSSO DESTINO
MEMÓRIA SAGRADA, RAZÃO DE VIVER
ANDAR ONDE NINGÚEM ANDOU
CHEGAR AONDE NINGUÉM CHEGOU
LEMBRAR A CORAGEM E O AMOR DOS IRMÃOS
E OUTROS HERÓIS GUARDIÕES
AVENTURAS DE FÉ E PAIXÃO
O SONHO DE INTEGRAR UMA NAÇÃO
KARARAÔ… KARARAÔ… O ÍNDIO LUTA PELA SUA TERRA
DA IMPERATRIZ VEM O SEU GRITO DE GUERRA!

Estrofe mais forte do samba, mostra o índio como o símbolo da resistência. A marca do legado é deixada para as gerações seguintes, sempre com o pedido que nunca se esqueçam daqueles que um dia ocuparam a terra como os primeiros e legítimos habitantes. Fala da luta pelo espaço e pela continuidade de sua cultura e língua em meio a todas as expedições. O “Raoni”, o chefe da tribo, é o responsável por não deixar cair no esquecimento tudo isso.

            No geral, um samba com uma letra caprichada e de muito conhecimento do assunto. Talvez a maior dificuldade seja com relação às variações de intensidade ao longo das estrofes, o que pode prejudicar o andamento no desfile. Mas é uma obra-prima admirável.

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